Das nuvens... quedam os delírios
Mas, agora, enxergo nas nuvens magistrais cavidades digestórias, revolto movimento de gotículas que decompõem seres imaginários, monstros grandiosos e leves, assustadores porém distantes, sopram com toda força - e, uivando nas frestas e corredores – desfazem-se em espiras brancas. Estas novas formas encontram outras, fundem-se e surpreendem com a construção dos mesmos seres anteriores vistos agora em novos ângulos. Com a riqueza e precisão criativa a mente nos presenteia com realidades oníricas ou até disléxicas, que dão ao novo ângulo caráter totalmente novo e não acreditamos estar vendo as mesmas figuras sempre.
Das efêmeras ruínas celestiais quedam minhas fantasias, porém, igualmente efêmeras. Súbito, num sopro, outras tomam lugar às anteriores. Elas caem das nuvens como penas, penas de pássaro penosamente pendulam astênicas no vento descontínuo. Se se arrisco em pegá-las, geralmente escapam-me; mas se estendo a mão num movimento lento e calmo, quase calculado, caem como luvas sobre os dedos. Numa poderosa ejaculação de tinta, cores, formas e movimento fecundam o plano bidimensional do papel. Deve, o narrador, passar tamanha credulidade para que o leitor,e este, já em ânsias de asco ou intensos delírios vicejantes seguirá todo e qualquer passo do vaidoso narrador – que tudo sabe e tudo vê.